Autor de uma obra notadamente inovadora, que lhe concedeu o Prêmio Cervantes de Literatura em 1980, Juan Carlos Onetti, uruguaio, dizia que escrevia porque gostava de contar histórias, tanto para atender a um prazer pessoal como para seu vício e, ainda, para sua "doce condenação". Compositor de romances impecáveis com personagens complexos, suas histórias cruzam o espaço da cidade fictícia de Santa Maria. Eram portadores de traços fortes como o desencanto e o inconformismo e a convivência com o fracasso, além do peso da idéia permanente do suicídio.
Onetti nomeava-se um pessimista natural e radical. Ao ser perguntado se, caso fosse possível, viveria em Santa Maria, respondeu: "Santa Maria não existe além de meus livros. Se existisse realmente, se pudesse viver ou vivesse lá, inventaria uma cidade que se chamasse Montevidéu".
Há já algum tempo que desejo postar no Projeto Rayuela alguns dados de Onetti, um dos grandes autores contemporâneos. Além de considerar muito seus escritos, que conjugam lucidez com corrosão, gosto quando esclarecia que encontrava seus temas em "sonhos diurnos", através de um "impulso onírico". Ao referir-se aos envolvimentos políticos dos escritores, disse que o único compromisso que aceitava era a determinação em tentar escrever sempre bem e melhor e conseguir tratar com sinceridade como era a vida que lhe coube conhecer e como eram as pessoas condenadas a transformarem-se em personagens de seus livros e ainda acrescentava: "Quero expressar nada mais que a aventura humana". São afirmativas caras a uma psicanalista...
Onetti obteve o reconhecimento de grandes escritores como Juan José Saer, Gabriel Garcia Márques, Juan Rulfo e Julio Cortázar, este um grande amigo, que costumava nomeá-lo "o maior romancista latino-americano". Na mesma vertes, Ángel Rama, referindo-se a "O Poço", considera que "este arisco, crítico e desolado texto, abre a narratiga contemporânea."
Mas é o depoimento de Mario Benedetti sobre os contos do amigo Onetti, que me encanta e verdadeiramente tem, acredito, o valor de uma importante observação em uma oficina de contos: "Como Onetti é sábio, sabe que não sabe e por isso seus contos são insondáveis e são como seres vivos que temos que voltar a ver outras vezes, do início até o fim, pelo meio, e pelas esquinas das páginas e dos parágrafos; e recomeçar porque a vida e os contos são complicados, e depois de um tempo adiante, seis anos ou uma semana, o conto já é outro,..., e então temos que recomeçar a dar-lhes voltas, agitá-lo antes de retomá-lo e deixar que as palavras voltem a assentar-se, para uma vez mais revelar seu mistério..., porque este é seu alvo secreto, e alguém vai se dando conta disso e percebe, através de um viés bem mais melancólico, que isso é um conto, e que, por esse motivo, os contos não podem ser muitos, porque o coração não resistiria e, se são de Onetti, menos ainda. E Onetti sabe disso e por isso não os escreveu tantos para dar possibilidades que passemos aos seus romances, onde é sempre mais fácil, por uma razão ou outra, acostumar-se às coisas, e sobreviver."
Onetti nasceu em 1909 (estamos no centenário de seu nascimento) em Montevidéu e faleceu em 1994 numa clínica em Madrid. A editora Planeta está publicando "O Poço", seu primeiro romance e republicando outros tantos. Recomendo ainda a leitura de "Os 47 contos de Juan Carlos Onetti", escritos entre 1933 e 1993, publicado em 2006 pela Companhia das Letras.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
....
Não conheço este autor, mas vou tentar encontrar algo.
Obrigado pela sugestão.
Um abraço
Postar um comentário