quinta-feira, 4 de março de 2010

A poesia de Juan Gelman

Em recente viagem à Buenos Aires (fevereiro/10), tive acesso a poesia do argentino Juan Gelman (1930, um dos mais reconhecidos poetas da atualidade). Filho de ucranianos de origem judia, sua vastíssima obra, mais de 30 livros, quase toda reeditada pela Seix Barral, tem sido traduzida para o inglês, francês, alemão, italiano, holandês, sueco, checo, turco, japonês, chinês e português. Seu trabalho mais recente é de 2009: "De atrásalante en su porfía".

Gelman viveu no exílio durante doze anos à época da ditadura militar na Argentina, quando perdeu seu filho e sua nora, grávida, que passaram a fazer parte do conhecido grupo de "desaparecidos". Tempos mais tarde conseguiu encontrar os restos mortais apenas do filho.

Sua obra traz a marca da diversidade, já que é atravessada por variadas técnicas de criação poética, o que o torna um poeta livre de rótulos. Sobre sua poesia, uma poética social, Julio Cortázar considerava que "talvez o mais admirável seja sua quase impensável ternura ali onde mais se justificaria o paroxismo do rechaço e da denúncia, sua invocação de tantas sombras por meio de uma voz que sossega e arrulha, uma permanente carícia de palavras sobre tumbas ignotas." Seu poema "Gotán" ("tango" na gíria lunfardo) está entre os mais conhecidos poemas argentinos.

A Universidade Federal do Ceará acaba de publicar a primeira edição brasileira do livro "Dibuxu" ("Debaixo") de Gelman, um trabalho ímpar, já que traz uma coleção de 29 poemas amorosos, escrito em sefardita, a língua dos judeus da península ibérica, um idioma antigo que marca uma das origens da própria língua espanhola. A edição brasileira é trilingue: sefardita, português e espanhol.

Para alguém que ainda esteja em dúvida se vale a pena ler Juan Gelman, segue o poema "Escribo en el olvido..."

Escribo en el olvido/ en cada fuego de la noche/ cada rostro de ti./ Hay una piedra entonces/ donde te acuesto mía/ ninguno la conoce/ he fundado pueblos en tu dulzura,/he sofrido esas cosas,/eres fuera de mís,/me perteneces extranjera.

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